Omissão do governo Alckmin agrava crise da água em SP
Nível do Sistema Cantareira chega a 0% e opera agora somente com a água do volume morto
O volume de água armazenada no Sistema Cantareira diminuiu mais 0,2% nesta terça-feira (8) e chegou aos 18,2% de sua capacidade, de acordo com dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). No mesmo período do ano passado, o nível de água era de 56%.
Enquanto isso, o governo tucano de Geraldo Alckmin continua a negar a existência de racionamento de água na capital. Tapando o sol com a peneira, ele diz contar apenas com as chuvas para que os paulistas não passem sede. Segundo ele, “só chove em mês com a letra r na escrita: setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março e abril”.
Sem contar o volume morto, água do fundo dos reservatórios que não pode ser captada sem bombeamento, o sistema já teria atingido 0% da sua capacidade. Desde que as águas mais profundas do sistema começaram a ser captadas, no dia 15 maio deste ano, a perda já soma 8,5%. O volume morto tinha elevado a capacidade do sistema para 26,7%.
Outras duas represas também registraram queda. O Sistema Alto Tietê passou de 24,4% para 24,2%. Já o Sistema Guarapiranga caiu de 69,4% para 69,1%.
Moradores e comerciantes da Lapa relatam problemas no fornecimento há cerca de três semanas. “Desde o último sábado, estamos com o abastecimento reduzido: apenas uma hora pela manhã e uma hora no fim da tarde. Estou tendo de driblar as caixas para manter os apartamentos com água”, afirma Luís Henrique Oseliero, síndico de um conjunto de duas torres residenciais na rua George Smith, em que vivem cerca de mil pessoas.
Guarulhos e Osasco, na região metropolitana da capital também enfrentam racionamento de água com dias alternados. Na capital, após relatos de falta de água em diversos bairros da zona norte, a zona oeste também começou a registrar interrupções no abastecimento.
INTERIOR
Desde a manhã da segunda-feira (7), bairros da zona leste da cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, estão recebendo água em horários alternados. O racionamento foi adotado depois que a água captada em duas represas particulares não foi suficiente para elevar o nível do reservatório do Ferraz, que abastece as regiões do Éden e de Aparecidinha, onde vivem pelo menos 60 mil habitantes.
O abastecimento está sendo interrompido das 6 às 18 horas em dezesseis bairros da região de Aparecidinha e das 18 às 6 horas em dezessete comunidades na área do Éden. Conforme o SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgotos), a medida é necessária para evitar que a falta de água se torne generalizada na região.
A falta de chuvas e de investimentos na área por parte do governo do Estado também prejudicou o abastecimento em outras nove cidades das regiões de Sorocaba e Campinas. Em Itu, desde o final de junho, a cidade toda está sendo abastecida em dias alternados.
A represa do Itaim, principal reservatório de Sorocaba, atingiu o nível histórico mais baixo, com 4% da capacidade. Em Saltinho, a população tem abastecimento seis horas por dia. São Pedro, Cosmópolis, Valinhos, Santo Antônio de Posse, Rio das Pedras, Vinhedo e Cordeirópolis também adotaram o racionamento.
Em Salto, região de Sorocaba, a seca provocou forte queda no nível do Rio Tietê, ficando cinco metros abaixo do normal nesta época.
CHUVAS
Aguardada como a solução para a crise do Sistema Cantareira, já que os investimentos do governo tucano (há 19 anos no poder) não vieram, a próxima temporada de chuvas não deve livrar o principal manancial paulista do estado crítico. Análise estatística feita pelo comitê que monitora a seca nos reservatórios revela que o Sistema tem apenas 25% de chance de acumular entre dezembro e abril de 2015 uma quantidade de água (546 bilhões de litros) suficiente para repor o “volume morto” usado emergencialmente e ainda devolver ao Cantareira 37% da sua capacidade antes do próximo período de estiagem.
O Grupo Técnico de Assessoramento para Gestão do Sistema Cantareira (GTAG), comitê que avalia e acompanha a crise no sistema Cantareira recomendou que a Sabesp reduza a quantidade de água retirada dos reservatórios.
“O GTAG concluiu não ser possível, com o atual volume disponível de 197,5 milhões de m³, o atendimento das vazões pretendidas até o horizonte de planejamento considerado de 30 de novembro de 2014”, diz o comunicado do comitê.
Segundo o levantamento feito pelo comitê anticrise a probabilidade do Cantareira obter um saldo igual ou superior a 394 bilhões de litros entre dezembro e abril é de 50%. Desta forma, o Sistema chegaria a maio de 2015 com cerca de 22% da capacidade normal.
Em 2004, ano da última crise do Cantareira, os reservatórios iniciaram o período sem chuvas (maio a setembro) com 35,5% do volume armazenado, este ano com 10,5%. Agora, o uso inédito de 182,5 bilhões de litros do volume-morto das represas pela Sabesp deve retardar a recuperação do Sistema.
Para o diretor do departamento de hidrologia da faculdade de engenharia da Universidade Estadual de Campinas, Antônio Carlos Zuffo, o Cantareira continuaria mergulhado na crise.
Embora 22% seja o dobro do volume de maio deste ano, ele é preocupante. Em 2014, o Sistema perdeu 20 pontos percentuais em cinco meses. Neste caso, entraria em restrição de uso. Apenas com 37% é que o Sistema estaria parcialmente recuperado.